Por Mônica Decanini
Praia. Vento forte no rosto. Ela se
aproximou. Aninhou-se em meu colo. Evocou meu sentimento materno mais profundo.
Porque não sermos mãe e filha? Por pertencermos a diferentes espécies? Que
espécie “superior” é esta que abandona a outra como se fosse lixo. Quero ser
mãe. De uma adorável cachorrinha, que entregou a mim todo o seu amor.
Beijou-me. Aconchegou-se. Recebi muito mais do que dei. A energia amorosa foi intensa,
mais do que qualquer outra que já havia sentido. Levei-a dali para longe. Outro
continente. Da África para a América do sul. Tornamos-nos companheiras. Quando
estou mal se aproxima e senta ao meu lado, como se quisesse me proteger. Fiel
guardiã. Dias de tempestade. Noite sem luz. Abandona sua cama. Deita-se no meu
ombro. Vento zunindo. Assobiando nas árvores. Que caem. Ouve-se barulho. Atenta,
levanta a cabeça e enfia na minha. Pede e me oferece proteção. Doente procura
meu colo. Recupera-se. Tiramos fotos juntas. Em casa. Na rua. No parque. Em
Cabo Verde foi a primeira foto. Na praia. No Tarrafal. Onde nos encontramos.
Viajamos para outros lugares. Ela tem o meu espírito. Inspira e expira vida. Chamei-a
Sol. Fomos para Índia meditar. Não questionou. Amor incondicional. Para New Orleans. Ouvir Jazz&Blues. A Cabo Verde. Rever uma velha amiga, amante de
bichos e da boa música. Revisitar suas origens. Ah! e à Inglaterra conhecer as
crias de duas amigas queridas. Escalar montanha na Escócia. Visitar meu amigo
Jeremy na Ilha de Skye, em sua
bucólica propriedade rural. Carneirinhos. Carneirinhos. Que dela fogem. Brincalhona.
E ele a fotografa em B&P. Paixão
de fotógrafo. E certo amigo brasileiro em sua “roça”. Agora ela faz trilhas. Os
pássaros se desassossegam. Cantam. Ela corre. Corre. Espera uma nova viagem. Não
quer outra vida, a não ser esta vida de cachorro.