quinta-feira, 14 de janeiro de 2010


Poderia começar com os meus gatos, que fotos deles não faltam, mas será uma cabra a inaugurar o blog. Porque, ainda que muitos queiram pôr a tartaruga como símbolo de Cabo Verde, porque é mais in, nestes tempos ecologicamente correctos, o facto é que os caprinos têm muito mais a ver com a história e o dia-a-dia desta terra. E por mais que lhe atirem a culpa de boa parte da devastação vegetal de que Cabo Verde foi padecendo ao longo do tempo, a verdade é que, nestas condições de relevo, clima, solo, etc., quem senão a cabra para conseguir se adaptar tão bem? Reconheçamos, ela é um símbolo de resistência, tal como muitas vezes se diz do homem cabo-verdiano.

E como me está ainda fresca a leitura do novo livro de Dina Salústio, fica um trecho a falar da cabra (Filhas do Vento, p. 64). Não vou explicar o contexto, quem quiser que leia o livro, mas a certa altura pela primeira vez alguém pronunciou tal palavra.

“…Cabra? O que é que significaria? Uma promessa, um elogio? Ou seria uma ameaça?

(…)

Com receio que a palavra desconhecida estivesse carregada de desgraças os moradores apressaram-se a espantar os mau-olhados, cada um do modo que sabia.”

Foi no meio dessas providências, lê-se no romance, que viram “… parada no alto do monte, chamado Figa Canhota, uma figura desconhecida, elegante, cabeça erguida, a cheirar o vento.

– Quem terá gritado o meu nome neste sítio tão estranho? As orelhas da criatura tremiam excitadas ao mesmo tempo que fazia projectos de fugir e voltar ao seu monte de origem, mais lá para o norte, ao seu pasto ideal, ao seu querer roubado.

– Um dia, eu vou – disse, sossegando a coragem e o desejo de partir. – Soltou um berro.”

1 comentário:

Unknown disse...

Muito bem Glaucia, felinas que somos reconhecemos o valor de um bom caprino.E concordo que a cabra que deveria ser um simbolo de Cabo Verde, pois um caboverdiano teima na vida, com a vida, como as cabras.

No livro do Mia Couto , 'O outro pé da sereia', tem uma frase ótima sobre os caprinos : " Cabrito é bicho que já viu o fim do mundo. Nada o surpreede." Recomendo o livro.

Ótima idéia.
bjs
Eliana